sábado, 25 de setembro de 2010

As etiquetas...

Para postagem inaugural, escolhi um dos temas que mais me atormentam quando se trata de livros antigos: as etiquetas de papel ou papel plastificado que os sebos fazem o favor de colar.

Primeiro, tenhamos um pouco de compreensão com nossos amigos livreiros: alguns sebos são símbolos de status (você sabe que é verdade). Caso não seja este o motivo, ainda pode ser para ter um controle das obras, ou mesmo só para marcar o preço. Um dia desses conversando com um livreiro amigo (Sebo Nós Três), ele disse que começaria a colocar etiquetas nos seus produtos.

Me levantei contra, dizendo que era quase um crime, depois de alguns anos marcava o papel e daí por diante. Ele me disse que faria isso porque havia pessoas que colecionavam livros com etiquetas e até pessoas que colecionavam etiquetas de livros, eu não duvidei, porque no mesmo dia mais cedo, visitando a Pinacoteca, numa mostra da Imprensa Oficial sobre livros, vi um volume justamente sobre etiquetas de livros no Brasil.

O livreiro disse que também ficava com dó de escrever no livro, porque enquanto a etiqueta se torna parte do produto (discordei de novo), o lápis se torna uma mancha, ainda que leve, depois de apagado. (Não concordei e ainda acho que isso se deve ao fato de qualquer leitor com menos dinheiro do que o livro pede poder apagar e falsificar o preço do livreiro).

Apesar dos pesares, esse livreiro e vários outros colam, começarão a colar e vão continuar colando etiquetas para os mais variados (des)gostos, então vamos aprender a retirá-las sem causar danos.


Métodos para se retirar a etiqueta de um livro:


  • Vapor d'água:

O mais método mais divulgado é o da chaleira. Ferve-se qualquer quantidade de água, espera-se juntar bastante vapor na panela e aí se coloca o livro à frente do jato de água vaporizada que sai da panela.
O absurdo da ideia de se jogar água num livro me fez nunca tentar este método. É quase como sugerir que se queime a etiqueta, tomando cuidado para não atingir a folha de guarda.



  • Secador de cabelos:
Essa é minha versão pessoal do método de vapor d'água. Mas sinceramente, não acho que tenha sido uma boa idéia. Testei num livro da Livraria Cultura (que usa aquelas belíssimas etiquetas eletrônicas gigantes atrás da orelha dos livros, que são de plástico e têm uma cola poderosíssima). Sem críticas à LC em sí, já que ela me fornece muito do que compro de melhor, é claro para todos nós que a etiqueta não é de se arrancar com a unha.
Testei numa edição em paperback de Paradise Lost, ainda bem que era paperback. Deu certo, a etiqueta saiu. A capa do meu livro nunca mais foi a mesma, de tanto que ressecou. Pensei: "pode ser porque a cola é forte demais" e, idiota, fui testar numa edição das obras completas do Camões, da Nova Aguilar, que comprei no Sebo do Messias. O Messias usa aquelas etiquetas amarelas, bem ruinzinhas, com uma colinha mais fraca, mas que também não é fraca o suficiente, e faz o favor de colar mesmo em edições de 1800 e bolinhas. (A minha edição era, claro, mais recente. Em uma dessa idade eu talvez tivesse deixado a etiqueta, em vez de correr o risco).
Só esquentei a página com o secador. Mas até a cola derreter (derreteu, e a etiqueta saiu sem tirar pedaços do papel), engruvinhei a página meio irrecuperavelmente (dentro dos métodos normais. É claro que uma intervenção cirúrgica teria resolvido mesmo este problema. Mas é melhor não o causar, não é?).

  • Anel quente:
Agora sim! Pensei nisso hoje, coloquei em prática com duas obras do Fernando Pessoa, compradas também no Messias (link acima), e deu super certo. É claro que eu sempre serei super grato a todos os livreiros que colarem a etiqueta na folha de guarda final do livro, e não na primeira, sempre visível, e que portanto sempre incomoda. E serei menos grato ainda aos que colam a etiqueta depois da guarda, no livro mesmo. O Messias colou uma na guarda e uma no livro (livros diferentes) e as duas sairam com este método revolucionário.

Acenda uma vela, segure um anel bem grosso com um alicate contra o fogo (um que você não vá usar, ou um que você comprou especificamente para este propósito e que não custou mais de R$5,00) até sairem ondas de calor do metal do anel.

Aplique, ainda com o alicate, o anel sobre a etiqueta, na região da cola. Faça movimentos leves (ou você marcará a página) sobre a cola e aos poucos vá puxando a etiqueta. Tome cuidado com o papel do livro e com a pele dos seus dedos. Esquente o anel novamente depois de um tempo e continue o processo.

Alguma marca sempre fica, mas ela será menos evidente quanto maior for sua paciência. Ainda não testei com as etiquetas da LC, mas imagino que dê menos certo ou demore um dia inteiro para funcionar. Ainda assim, é melhor que molhar o livro ou secar excessivamente as fibras do papel (no caso de livros antigos isso pode ser realmente grave).







Quaisquer dúvidas, e-mail me: gabrielmsalomao@gmail.com

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